A atualização NR-1 representa um marco na legislação trabalhista brasileira ao trazer, pela primeira vez, a obrigatoriedade de gerenciamento de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Empresas de todos os portes devem compreender as mudanças e se adequar para garantir não apenas a conformidade legal, mas também a saúde mental corporativa dos colaboradores. Neste artigo, você entenderá o contexto da nova norma, as principais exigências, os fatores de risco psicossociais incluídos e como sua empresa pode se preparar desde já para a implementação.
1. O que é a atualização NR-1
A NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1) institui as diretrizes gerais de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) no Brasil. Publicada originalmente em 1978, a norma passou por diversas revisões ao longo das décadas. Em sua mais recente atualização NR-1 (Portaria MTb nº 1.109, de 11 de julho de 2023), a norma ganhou importantes alterações:
Inclusão de Riscos Psicossociais: Pela primeira vez, fatores como estresse excessivo, assédio moral e carga mental foram considerados riscos ocupacionais, devendo ser mapeados e controlados pelas empresas.
Calendário de Implantação: A adequação se dará em etapas, desde a fase educativa até a fiscalização rigorosa, garantindo tempo para que empregadores e empregados se adaptem.
Fortalecimento do PGR: O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) passa a exigir, sem exceções, a avaliação detalhada de riscos psicossociais, além dos riscos físicos, químicos e biológicos já previstos.
Ao entender esses pontos, fica clara a relevância da atualização NR-1 tanto na esfera de legislação trabalhista quanto na promoção de saúde mental corporativa. Empresas que se anteciparem às exigências estarão em melhor posição para proteger seus colaboradores e evitar multas futuras.
2. Principais mudanças introduzidas pela atualização NR-1
A atualização NR-1 instituiu novos requisitos para gestores de SST e para profissionais de Recursos Humanos. A seguir, destacamos as alterações mais relevantes:
2.1 Inclusão dos Riscos Psicossociais como Obrigatoriedade Legal
Até então, normas específicas (como a NR-17, de ergonomia) abordavam parcialmente o tema, mas sem o peso de obrigatoriedade para todos os setores. Com a revisão, a NR-1 incorporou, de fato, o risco psicossocial ao PGR, ordenando que:
As empresas mapeiem fatores como metas excessivas, jornadas de trabalho exaustivas, conflitos interpessoais e assédio moral;
Sejam feitas entrevistas, questionários e outras ferramentas de análise para comprovar evidências desses riscos;
Controles e medidas preventivas sejam implementados e documentados.
2.2 Definição de Cronograma de Implantação
A nova NR-1 estabelece dois momentos distintos:
Período Educativo (até maio de 2025): As empresas deverão apresentar relatórios iniciais ao MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) mostrando que estão cientes dos riscos psicossociais e que planejam mapeá-los. Neste estágio, não haverá aplicação de multas, mas será exigido o envio de documento comprobatório de planejamento.
Vigência Plena (a partir de maio de 2026): A partir dessa data, a fiscalização será efetiva. Inspeções poderão verificar se o PGR contempla, de fato, o controle de riscos psicossociais, sob pena de sanções e multas previstas na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Esse escalonamento visa dar tempo para que empresas de todos os segmentos – de startups a grandes indústrias – se adequem sem prejuízos imediatos, mas cria senso de urgência para o cumprimento de etapas específicas.
2.3 Reforço no PGR e nos Procedimentos de Auditoria
Antes da atualização NR-1, o PGR atendia apenas a riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Agora, a empresa precisa:
Elaborar um plano de ação que englobe controle de fatores psicossociais, como sobrecarga de trabalho e falta de apoio organizacional;
Registrar evidências (entrevistas com funcionários, resultados de questionários, estatísticas de absenteísmo por transtornos mentais);
Testemunhar que há um canal efetivo de denúncia e acolhimento, garantindo sigilo e proteção ao colaborador.
Durante auditorias e inspeções, órgãos fiscalizadores poderão solicitar todos os documentos que comprovem esse mapeamento e as ações de controle.
3. Riscos psicossociais segundo a atualização NR-1
A inclusão de riscos psicossociais na atualização NR-1 reflete uma mudança de paradigma: reconhecer que fatores emocionais e comportamentais podem afetar severamente a saúde dos trabalhadores. Entre os principais riscos definidos pela norma, destacam-se:
Sobrecarga de Trabalho e Metas Exageradas
Prazos impossíveis de cumprir, jornadas que ultrapassam a capacidade humana e falta de pausas adequadas.
Exemplo: operadores de teleatendimento que precisam atender centenas de ligações diárias sem intervalos suficientes.
Falta de Apoio Organizacional
Ausência de feedback construtivo, comunicação deficiente e liderança autoritária.
Exemplo: equipes que não têm canais formais de escuta para sugerir melhorias ou relatar problemas.
Assédio Moral e Pressão Constante
Comportamento intimidatório de superiores ou colegas, humilhações em público e ridicularização de ideias.
Exemplo: gestor que xinga ou reclama do colaborador diante de toda a equipe para “dar exemplo”.
Isolamento e Ambientes de Trabalho Hostis
Falta de integração entre departamentos, sedentarismo resultante de teletrabalho e ausência de convivência saudável.
Exemplo: profissional em home office que nunca consegue desconectar e sente-se sem suporte social.
Caso não controlados, esses riscos podem gerar consequências graves como transtornos de ansiedade, depressão, síndrome de Burnout e outros problemas de saúde física (queixas de dor crônica, problemas cardiovasculares). A atualização NR-1 traz a necessidade de diagnóstico formal desses riscos por meio de ferramentas específicas, conforme veremos adiante.
4. Impactos e implicações para empresas
As novas exigências introduzidas pela atualização NR-1 trazem obrigações diretas para empregadores e gestores de SST:
Obrigatoriedade de Mapeamento e Documentação
Empregador deve contratar ou treinar profissionais para elaborar o PGR incluindo riscos psicossociais.
Documentar todo o processo (entrevistas, formulários, estatísticas internas, relatórios de absenteísmo).
Revisão de Políticas Internas
Adaptação de normas internas de RH, manuais de conduta e políticas de segurança.
Criação de Comitê Interno ou Tripartite para debater e propor medidas contínuas de controle.
Treinamento e Capacitação de Líderes
Formar gestores para reconhecerem sinais de estresse, esgotamento mental e episódios de assédio moral.
Promover cultura de acolhimento, com canais de denúncia claros e garantias de sigilo.
Monitoramento Contínuo de Indicadores
Coleta periódica de métricas como absenteísmo, rotatividade voluntária, registros de afastamentos por motivos emocionais e índices de satisfação.
Utilizar essas métricas para ajustar planos de ação e comprovar a eficácia das intervenções.
Possíveis Sanções e Multas
A partir de maio de 2026, fiscais do MTE podem multar empresas que não apresentarem evidências de mapeamento e controle dos riscos psicossociais.
Valores de penalidades podem variar conforme o grau de risco identificado e a reincidência.
Além das implicações legais, a saúde mental corporativa adequada tem impacto direto na produtividade, no engajamento e na redução de custos (menos faltas, menos rotatividade e menos afastamentos por licença médica). Dessa forma, investir em conformidade à NR-1 não é apenas obrigação, mas estratégia de sustentabilidade organizacional.
5. Como sua empresa pode se preparar para a atualização NR-1
Para garantir que sua organização se adeque à atualização NR-1 de forma eficiente, siga estas etapas práticas:
Diagnóstico Inicial de Riscos Psicossociais
Contrate especialistas ou capacite sua equipe de Recursos Humanos (RH) para aplicar questionários e conduzir entrevistas individuais e em grupo.
Utilize checklists baseados no “Guia de Fatores de Risco Psicossocial” do governo para identificar pontos de atenção.
Ferramentas recomendadas: surveys anônimos, grupos focais e análise de indicadores internos (absenteísmo, turnover, número de reclamações de assédio).
Elaboração ou Atualização do PGR
Incorpore, ao lado dos riscos físicos e químicos, os riscos psicossociais no PGR.
Defina responsáveis por cada etapa: da coleta de dados à implementação de controles corretivos e preventivos.
Registre detalhadamente todo o processo para gerar histórico e assegurar rastreabilidade.
Implementação de Medidas de Controle
Exemplo de ações imediatas: revisão de metas e prazos acordados com cada colaborador, pausas obrigatórias durante a jornada e rodízio de tarefas.
Criar canais formais de acolhimento psicológico, incluindo psicólogos internos ou convênios com clínicas especializadas.
Ações de conscientização: palestras e workshops sobre temas como assédio moral, relações interpessoais e gerenciamento de estresse.
Capacitação de Líderes e Gestores
Treine chefias para identificar sinais de alerta (colaboradores que evitam o convívio social, baixa produtividade, queixas físicas sem causa aparente).
Ensine rotinas para receber denúncias de forma confidencial e encaminhar possíveis casos ao setor de SST ou a profissionais de psicologia.
Monitoramento e Revisão Contínua
Periodicamente (trimestralmente, por exemplo), reavalie indicadores-chave (absenteísmo, rotatividade, satisfação).
Gere relatórios internos para acompanhar a evolução do risco psicossocial e ajuste o plano de ação conforme necessidade.
Caso identifique aumento de casos de estresse ou reclamações de assédio, reúna comissão interna para propor ações específicas (ej.: grupo de apoio, mentoring psicológico).
Envolvimento dos Colaboradores
Comunique de forma transparente as mudanças normativas e mostre que o objetivo é cuidar da saúde mental coletiva.
Disponibilize treinamentos rápidos (e-learning ou lives internas) sobre a atualização NR-1, responsabilidades e canais de denúncia.
Incentive feedbacks anônimos para que a liderança conheça pontos vulneráveis antes que se transformem em problemas maiores.
Implementar essas etapas exige dedicação, mas os resultados na saúde mental corporativa e na eficiência dos processos compensam. Para acelerar essa jornada, conte com a experiência da InFocus Health em diagnóstico de riscos psicossociais e programas de saúde mental alinhados à NR-1.
6. Ferramentas de apoio e guias oficiais
Vários documentos oficiais podem auxiliar sua empresa na atualização NR-1. Entre os principais, destacam-se:
Guia de Fatores de Risco Psicossocial (MTE)
Fornece exemplos de riscos, métodos de avaliação e recomendações práticas para controle.Manual Técnico da NR-1 (aberto para consulta até o fim de 2024)
Detalha requisitos legais, definição de responsabilidades e prazos.Portaria MTb nº 1.109/2023
Texto oficial da nova norma, disponível para download no site do Ministério do Trabalho e Emprego.
Além desses, é possível encontrar cursos online e webinars organizados por entidades sindicais, faculdades e consultorias especializadas em SST. A InFocus Health também oferece materiais de suporte gratuitos, envolvendo checklists e exemplos de relatórios de diagnóstico; aproveite para baixá-los em nosso site.
7. Casos de sucesso: empresas que já se adequaram
Empresas de diversos setores e tamanhos já iniciaram a implementação da atualização NR-1 antes do prazo final, garantindo vantagens como:
Prevenção de impactos negativos: redução de afastamentos por transtornos mentais e físicos que surgem em função do estresse crônico.
Melhoria do engajamento: colaboradores mais motivados, pois percebem que a empresa se importa com o bem-estar.
Fortalecimento da marca empregadora: reputação positiva no mercado de trabalho, atraindo talentos que valorizam cultura organizacional saudável.
Exemplos de ações bem-sucedidas:
Mapeamento rápido em 2023: Instituto de Tecnologia realizou diagnóstico de riscos psicossociais em duas semanas, aplicando ferramentas de survey digital e entrevistas estruturadas.
Programa piloto de acolhimento psicológico: Empresa de call center criou um canal interno de psicologia online, reduzindo em 25% as queixas de burnout em 6 meses.
Treinamentos contínuos: Indústria metalúrgica implantou workshop mensal sobre comunicação empática e controle de metas, gerando queda de 18% no turnover anual.
Esses cases demostraram que quem se antecipa à atualização NR-1 tende a colher frutos não só no cumprimento da lei, mas também na saúde mental corporativa.
8. Erros comuns ao implementar a atualização NR-1 (e como evitá-los)
Achar que basta “tickar” uma checklist
Muitas vezes, empresas encerram o PGR documentando apenas a lista de riscos, sem de fato realizar entrevistas ou aplicar questionários. Resultado: fiscalização pode considerar o mapeamento superficial e autuações podem ocorrer.
Solução: Utilize ferramentas confiáveis de coleta de dados e comprove resultados (print de respostas anônimas, gravações de entrevistas, relatórios consolidados).
Não envolver líderes no processo
Se gestores não entendem a importância do novo capítulo da NR-1, não darão suporte às ações. No limite, colaboradores sentem que se trata apenas de “mais burocracia”.
Solução: Realize sessões de capacitação para chefias e demonstre como a adequação beneficia a produtividade e reduz custos de afastamento.
Ignorar o período educativo
Algumas empresas ignoram o cronograma universitário de maio de 2024 a maio de 2025, deixando para iniciar o mapeamento muito em cima do prazo.
Solução: Comece imediatamente o planejamento. Use o período educativo para testar ferramentas, ajustar processos e envolver colaboradores.
Focar apenas em documentos, sem ações práticas
Na pressa de entregar relatórios rápidos, há quem apenas monte o PGR no papel, sem implementar medidas de controle reais (pausas obrigatórias, treinamentos, canais de denúncia).
Solução: Acompanhe indicadores (absenteísmo, rotatividade) e coloque em prática ações de acolhimento psicológico logo após o diagnóstico.
Evitar esses erros é fundamental para que a atualização NR-1 não se transforme em um obstáculo, mas sim em uma oportunidade de fortalecer a cultura organizacional.
9. FAQ sobre a atualização NR-1 e riscos psicossociais
Para esclarecer dúvidas recorrentes, listamos algumas perguntas frequentes:
1. A NR-1 obriga a contratação de psicólogo?
Não há exigência direta de manter um psicólogo exclusivo no quadro de funcionários. O que a norma determina é que os riscos psicossociais sejam mapeados e controlados, podendo ser por meio de reestruturação interna, parceria com clínicas especializadas ou contratação de consultoria.
2. Quando começa a fiscalização efetiva da NR-1?
A fiscalização plena com multas ocorrerá a partir de maio de 2026. Até maio de 2025, o período é apenas educativo, sem aplicação de sanções.
3. A norma se aplica a todas as empresas, independentemente do tamanho?
Sim. A atualização NR-1 se aplica a micro, pequenas, médias e grandes empresas. Todas devem comprovar, via PGR, que consideraram os riscos psicossociais.
4. Quais setores têm maior prioridade de fiscalização?
Setores com históricos de alta rotatividade, adoecimento por estresse ou denúncias frequentes, como call center, bancos, saúde e transporte, podem ser alvos prioritários em auditorias do MTE.
5. Como documentar o mapeamento de riscos psicossociais?
Use ferramentas diversas:
Questionários anônimos (ex.: escala de estresse percebido).
Entrevistas semiestruturadas com grupos de funcionários.
Relatórios de indicadores (absenteísmo, afastamentos) extraídos do RH.
10. Conclusão e Chamada para Ação
A atualização NR-1 representa uma evolução necessária para a proteção dos trabalhadores e um desafio para as empresas. Ao incluir riscos psicossociais no PGR, organizações demonstram comprometimento real com a saúde mental corporativa, reduzindo custos associados a afastamentos e promovendo ambientes de trabalho saudáveis e produtivos.
Não espere para o último minuto: comece agora mesmo a planejar seu diagnóstico de riscos psicossociais e suas ações de controle. Conte com a experiência da InFocus Health, especialista em diagnóstico, treinamento e consultoria para adequação à NR-1.
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